Ontem, a Rosa da Luz, viúva do Azagaia, esteve no “Moçambique em Concerto” com o cativante Gabriel Júnior. Azagaia, que não morreu, esteve na sala a acompanhar a entrevista à sua viúva e fez tudo em total silêncio. Ele estava por ali e anda por aí, por isso a sua viúva continua com a aliança de casamento no dedo. Achei feio demais o silêncio do Azagaia, no mínimo devia ter saído da plateia, tomado o microfone e dito alguma coisa.
Não tenho dúvidas: Azagaia andava por ali e preferiu ficar em silêncio, totalmente com a língua enterrada entre as gengivas. Preferiu ficar em silêncio, porque viu que o povo se quiser pode estar no poder. Ontem o povo tomou o poder com uma arma imparável que se chama amor.
E tu, Azagaia, não dizes nada? Já viste a quantidade de gente que te ama? Estás-te completamente a marimbar? Ouve lá, leva isso a sério. Tu gritavas, todos os dias, “povo no poder” por amor ao teu povo. E ontem o povo mostrou-te que o teu amor nunca foi em vão. Viste como a tua viúva sorriu no meio de restos de lágrimas? Viste como brilharam os olhos dela quando nos contou como foi o vosso primeiro encontro?
A viúva do Azagaia, de tempos a tempos, enterrava-se no lencinho para esconder as poucas lágrimas que lhe ainda restam desde que perdeu o marido. Deve ser difícil ser viúva de uma pessoa que anda por aí em silêncio.
De certeza, quando a viúva do Azagaia chegou à casa, chorou sem parar porque às vezes a felicidade é tão triste, comeu as suas filhas com um enorme abraço cheio de dentes de ternura e não se importou com o silêncio do Azagaia que estava por ali. Eu não entendo esse silêncio do Azagaia.
Azagaia, que era um paz de alma, foi ontem, pela primeira vez, um cobarde. Um verdadeiro cobarde, porque viu tudo, ontem, e preferiu ficar em silêncio, sem tinir. Se o silêncio matasse, não tenho um pingo de dúvida, Azagaia estaria um defunto, mas Azagaia anda por aí porque nunca morreu.